Quem muito viaja, muito se ferra! #FATO – No meu caso, nunca tive nenhum grande perrengue nem me meti em uma grande roubada, mas nem por isso deixo de ter várias histórias para contar aqui no quadro Sofrência de viagem.
Passei por um mega perrengue em uma viagem comprada através de uma promoção divulgada pelo Melhores Destinos. Encontrei uma passagem para Miami saindo de Guarulhos e, mesmo morando no Rio, decidi aproveitar com minha esposa pois o preço compensaria com muita folga a compra da passagem de e para SP. Naquela época, promoções para os Estados Unidos eram bem mais raras que hoje em dia.
A Ida
A viagem de ida foi uma peregrinação que começou com o trecho até Guarulhos, que comprei por conta própria e por isso coloquei uma margem enorme para ter bastante tempo para realizar o check in. Ao invés das tradicionais 3 horas solicitadas pelas empresas aéreas, programei nossa chegada a GRU com 5 horas de antecedência. Vai anotando. De Guarulhos seguimos para Bogotá. Um vôo de 6 horas em uma aeronave super nova e confortável, sem nenhum grande contratempo, seguido de uma escala de mais 5 horas, com cães farejadores por todos os lados. Finalmente fizemos nossa última perna aérea entre Bogotá e Miami e praticamente não lembro desse vôo, pois antes do vôo decolar já estava apagado e só acordei quando o avião tocou o solo em Miami. Nosso destino final era Orlando, então nos recompomos, mais uma vez fomos farejados (nunca vi tantos cães policiais quanto nessa viagem), passamos pela imigração e seguimos para o nosso destino final, que era Orlando. Pegamos mais 4 horas de estrada até o nosso hotel. Nas contas finais foram mais de 30 horas em rota. Mas nada disso pode ser considerado perrengue, pois foi tudo conforme planejado. As escalas e deslocamentos longos foram o custo extra que tivemos que pagar para poder aproveitar uma promoção inacreditável.
O retorno
Mas o problema mesmo foi a volta. De cara nós tivemos um stress enorme no deslocamento para o aeroporto, pois pegamos um trânsito infernal em Miami e chegamos MUITO em cima da hora. Tão em cima que deixei minha esposa com todas as malas (e eram muitas) no terminal, e fui devolver o carro sozinho. Falei para ela ir para a fila do Check in despachar as bagagens e se Deus fosse bom, a gente conseguia embarcar. Detalhe que nós não tínhamos celular para se falar.
Depois de quase atropelar um guardinha e correr (literalmente) algumas centenas de metros, encontrei minha esposa no saguão, a cara dela não era boa. Pensei: FUDEU, perdemos o vôo. Mas a notícia não era tão ruim: O voo havia sido cancelado. Até hoje eu não tenho certeza se conseguiria embarcar naquele bendito vôo, assim sendo, não posso reclamar (muito). A Avianca mandou todos os passageiros para a American, mas como fomos um dos últimos a se apresentar para embarque, senão os últimos, fomos remanejados para o último vôo da American naquele dia. Meu vôo original sairia as 17h, já o da American, às 22h. Apesar da longa espera, não teríamos a escala em Bogotá. Mas essa mudança fez uma diferença brutal na nossa viagem. Vocês já vão entender.
O nevoeiro
Fizemos um voo de merda (o staff de bordo da American é desprezível) mas tudo corria bem até a nossa chegada em Guarulhos. Reparei que o avião estava fazendo muitas curvas. Logo recebemos o aviso de que, por falta causa de um forte nevoeiro não tínhamos condição de pouso, o voo em que voltamos de Miami ficou quase uma hora sobrevoando a região de São Paulo, até que o piloto decidiu alternar para o Galeão. Pensei: “Nossa que sorte!”. Eu não poderia estar mais errado. Pousamos no Galeão e lá ficamos por aproximadamente 3 longas horas dentro do avião, aguardando melhores condições em Guarulhos.
Estava ao lado de minha casa, mas não podia sair. Foram horas angustiantes. Depois da espera, seguimos para Guarulhos. Lembram que eu relatei que a promoção do MD era partindo de São Paulo, e eu havia comprado o trecho interno separado do bilhete internacional? Pois é. Eu não consegui me apresentar para check in a tempo, se não perdi meu vôo nos Estados Unidos, não tive a mesma sorte no Brasil. Detalhe: o meu voo para o Rio havia sido cancelado, mas mesmo assim a companhia considerou “no show” e, dessa forma, nós estávamos em Guarulhos, com uma tonelada de bagagem, sem passagem e para completar, o aeroporto estava um caos, pois todos os voos daquela manhã foram cancelados.
Teríamos que comprar outra passagem, mas não haviam mais passagens para aquele dia em nenhuma companhia. Todos os voos lotaram com a necessidade de realocar os milhares de passageiros que ficaram no chão naquela manhã infernal em Guarulhos. Aliás, vocês sabem o que significa Cumbica em Tupi-Guarani?
A estrada
Eu sou uma pessoa super racional e controlada. Mas nessa hora bateu um desespero. Não por muito tempo pois em um momento de sagacidade e iluminação tive uma ideia que, se não era maravilhosa, se tornou uma luz no fim do túnel: “Vamos alugar um carro!” Passar horas dirigindo após uma viagem tão estressante era o último dos meus desejos, mas não era o fim do mundo, afinal de São Paulo ao Rio nós temos uma estrada muito boa e a distância não é tão desafiadora.
Mas havia um problema: Todas as locadoras cobram uma taxa para devoluções do veículo em cidades diferentes, e era um valor bem alto, em torno de 8 vezes o valor da diária. Esse valor é calculado com base na distância da devolução e eu descobri que a Unidas (e apenas ela) cobrava uma taxa fixa para devoluções do veículo no Rio (e apenas no Rio). Essa taxa era um terço do que as outras cobravam.
Então eu tinha duas opções. Na primeira eu pegava um táxi, pagava um hotel, comprava uma passagem aérea, mais o excesso de bagagem, que certamente iria me custar os olhos da cara. Na segunda eu pegava um carro basicão, pagava a taxa da Unidas mais os gastos de pedágio e combustível. Não foi uma decisão nem um pouco difícil, pois estávamos morrendo de saudade dos nossos filhos e a segunda opção, além de muito mais barata, era também a menos demorada. Soquei (literalmente) as malas em um Palio 1.0 de 2 portas, sem ar-condicionado e pegamos a Dutra com destino ao nosso lar.
Nesse relato, parece que os fatos aconteceram de maneira encadeada e fluida, mas na verdade foi tudo muito lento e sofrido. Já estávamos muito cansados pelo stress da viagem, pelas horas de atraso até aterrisar em Guarulhos, pelas horas até pegar nossas bagagens nas esteiras superlotadas e para passar com elas pela alfândega (milagrosamente não implicaram com a nossa pequena mudança), pelas horas tentando conseguir uma passagem e tentando achar uma solução para chegar em casa… Me lembro claramente que em dado momento, não acreditava mais que conseguiria. Minha energia estava se esvaído e junto com ela minhas fé.
O cagaço
Pegamos o carro por volta de 19h, paramos para comer alguma coisa na estrada e só iniciamos realmente a viagem por volta das 20h. Já de madrugada, quando passávamos pela Linha Vermelha, na altura da baixada, um lugar horrível, escuro, deserto e infestado de marginais, uma viatura da PM fez sinal para que parássemos. Dois caras muito esquisitos apontando armas enormes na nossa direção, com evidentes sinais de uso de drogas, nos interpelaram de maneira muito ríspida. Pediram para abrir o porta malas e eu tive que explicar a história toda, mas eles implicaram, pediram para abrir uma das malas que estava enrolada com aquele filme plástico que protegem a bagagem. Senti muito medo, pois não havia ninguém próximo. Poucos carros passavam por ali. Os caras só nos liberaram quando peguei o telefone e liguei para uma central de segurança da empresa que trabalho e passei minha identificação e o que estava acontecendo. Eles se ligaram que poderiam ter problemas comigo, mas com certeza já estavam calculando quanto valiam minhas muambas.
Daquele momento tenso até minha casa foram alguns minutos, e ao mesmo tempo que lutava contra o cansaço, não me continha com a proximidade de um chuveiro e minha cama.
Se a ida já foi uma saga de pouco mais de 30 horas, a volta foi uma odisseia que durou quase dois dias. Mas no final, deu tudo certo. Mesmo que soubesse que seria desse jeito, eu faria tudo de novo!
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